Milhares, talvez milhões de pessoas em 171 países são gratas aos Alcoólicos Anônimos. Hoje, na comemoração de 75 anos de fundação da instituição, eles brindam à sobriedade. Não há remédio ou vacina para o mal que lhes afligiu. E, apesar de a recuperação ser fruto da força de vontade de cada um, é unânime o sentimento de que a instituição desempenhou papel essencial para reconhecer o problema do alcoolismo e ensinar a encará-lo.
No Brasil, 4,5 mil grupos apoiam as vítimas de alcoolismo, sendo 280 no Paraná e 88 em Curitiba e região metropolitana. Em agosto, o AA completa 42 anos de atuação no estado. Um corretor financeiro e um médico, vítimas do alcoolismo, da cidade de Akron, nos Estados Unidos, foram os responsáveis pela criação do AA, em 1935.
Quatro anos mais tarde, a irmandade publicou o primeiro texto básico, expondo a filosofia e os métodos de atuação (divididos em doze passos de recuperação) formatação que facilitou a disseminação do trabalho. É impossível dizer quantas pessoas passaram pelos grupos de trabalho nos últimos 75 anos, pois o anonimato é uma das prerrogativas. Não são feitos cadastros e nem há bancos de dados com informações de quem participa ou frequentou os grupos.
Amadeu, 64 anos, está sóbrio há 21 anos, desde que buscou apoio no AA, os sobrenomes não são informados em razão do anonimato. Ele não sofreu grandes perdas materiais ou sociais graças ao apoio constante de sua esposa e de amigos, que durante 26 anos controlaram seus negócios e su-portaram as dificuldades. "A perda maior é a espiritual. Você se esvazia de todos os valores, se desmoraliza diante da família e da comunidade. E acaba se isolando como consequência", constata. "Quando você chega ao grupo, é informado de que o alcoolismo é doença e para de achar que tinha desvio de caráter, que era um safado".
A força para encarar o problema, segundo Amadeu, está em compartilhar experiências e observar pessoas que obtiveram êxito. "Quando um alcoólico planta na mente de outro a natureza exata da doença, essa pessoa nunca mais vai se comportar do mesmo jeito", diz. "Pela experiência dessas pessoas, você vê que é possível parar. É preciso evitar o primeiro gole só hoje." No primeiro dos 12 passos a pessoa admite sua impotência e assume que deve evitar o primeiro gole. Portanto, o termo beber socialmente é algo inexistente no dicionário do alcoólico.
Para participar das reuniões, é necessário apenas ter o objetivo de parar de beber. Nos grupos, reúnem-se os mais diferentes tipos de pessoas, sem distinções sociais: do pobre ao rico; do letrado ao analfabeto; do jovem ao idoso.
Doença Fatal
O alcoolismo é uma das doenças que mais mata e pode causar 350 tipos de doenças, entre físicas e psiquiátricas. Pior: um em cada dez usuários tende a se viciar. Segundo uma pesquisa do Ministério da Saúde realizada em 2009, o porcentual de uso abusivo de álcool cresce constantemente subiu de 16,1% em 2006 para 17,5% em 2007 e para 19% em 2008. O estudo considera abusivo o consumo de mais de quatro doses de álcool para mulheres e mais de cinco para homens em um mês. Uma dose equivale a uma lata de cerveja, uma taça de vinho ou porções de destilados.
Serviço:
A Central de Serviços dos Alcoólicos Anônimos oferece informações pelo telefone (41) 3222-2422. Aos interessados, a central indica a localização e a data das reuniões do AA. Ou através do site: www.aaonline.com.br